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11 maio, 2013


SOBRELOJAS DO  MALETTA

http://www.otempo.com.br   Jornal  o tempo  de 12-05-2013

COMPORTAMENTO

Tecnologia e outras mudanças não ameaçam os livros

Os legítimos heróis da resistência

O Tempo - ‎há 5 horas‎
Nas sobrelojas do edifício Maletta há um verdadeiro corredor cultural. Quem entra na Opção II, é imediatamente recebido por Ivan Ferreira, que faz questão de plastificar todos os exemplares que pode. “É para preservar o livro. Não é só para conseguir ...
PUBLICADO EM 12/05/13
Conversar com um livreiro de sebo não é das tarefas mais fáceis. Eles interrompem o assunto toda vez que um cliente entra na loja. Mas pedem sempre desculpas de um jeito extremamente gentil, alegando que aquele senhor vai ali toda semana ou há várias décadas. A verdade é que a atenção é a mesma para os leitores de primeira viagem.
Para eles, os e-books, os saldões de grandes livrarias e os clássicos disponíveis de graça para download parecem não assustar. E de fato, só não vivem no universo paralelo porque sabem se adaptar aos novos tempos. “Meu pai achava que a internet ia fazer o livro perder o romantismo, porém isso não aconteceu. Além das três lojas, tenho meu catálogo na Estante Virtual. Já vendi para países como França e Portugal e percebi que temos que nos abrir para o novo. Nós livreiros somos eternos aprendizes”, revela Lourenço Carrato Crocco, um dos herdeiros da livraria e sebo Amadeu, com 65 anos de histórias.

Para ele, “quando se tem um bom preço, não é preciso ter medo” e, no caso dos sebos, fatores como a raridade do acervo e o tratamento personalizado – aquele que a todo momento interrompe a conversa – são a melhor forma de relação. “Eu tenho carinho pelos meus clientes, gosto de uma boa prosa. E quando não tenho o livro aqui, indico outro sebo, caso ele tenha pressa e não possa encomendar”, diz.

Lourenço Carrato Cocco se emociona ao lembrar da geração que cresceu frequentando a livraria. “Tem gente que vem aqui há 20, 30 anos. Sempre que um adulto vinha com uma criança, meu pai costumava dar um livro de presente para plantar a sementinha da literatura no pequeno. Tem gente que diz que aprendeu a gostar de ler com ele”, orgulha-se.

Lourenço e o irmão mais velho Amadeu são engenheiros por formação, porém nunca exerceram tal ofício. “Aqui eu não vejo o tempo passar, trabalhar com livros me dá muito entusiasmo. O único problema é que o livreiro não pode ter sua biblioteca particular, pois sempre que aparece um cliente procurando um livro que não temos na loja e tem na minha casa, acabo cedendo o meu”, arremata.

Tradição renovada. Nas sobrelojas do edifício Maletta há um verdadeiro corredor cultural. Quem entra na Opção II, é imediatamente recebido por Ivan Ferreira, que faz questão de plastificar todos os exemplares que pode. “É para preservar o livro. Não é só para conseguir um valor melhor na venda”, explica o livreiro que veio de Campina Grande, na Paraíba, para um estágio, e nunca mais voltou. “Minha irmã Nilda e meu cunhado Pedro trabalhavam no sebo Brandão, em São Paulo, e o que era para ser três meses de aprendizado, acabou virando profissão”, conta.

Ivan se mudou para Belo Horizonte e há 13 anos tanto ele quanto os irmãos Nildo, Vando, Irinaldo e Neide mantêm lojas no local. “Aqui é um verdadeiro point. Tem gente que, se pudesse, mantinha o sebo funcionando até de madrugada”, afirma.

Presente também na Estante Virtual, a livraria de Ivan atrai todos os tipos de leitor. “Muita gente vê o livro na internet e, sendo daqui, acaba vindo para evitar pagar o frete. Acho que a internet também pode trazer leitores que leram um texto ou uma frase atribuída a algum escritor e têm interesse de vir direto à fonte”, ensina.

Aspectos pitorescos pontuam as mudanças de relação que não dizem respeito à tecnologia. “Tem uma cliente que veio uma vez para comprar livros apenas para decorar sua fazenda. Ela gastou R$ 800. A gente até acaba indicando uns livros bonitos de capa dura, mas sabe que a maioria dos nossos frequentadores quer mesmo bom conteúdo”, diz.


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