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24 novembro, 2013

Efervescência está de volta ao Maletta - MALETTA VOLTOU A SER UM "POINT"

JORNAL O TEMPO DE 26 DE NOVEMBRO DE 2013

 

 

JORNAL   O TEMPO  DE 24 DE NOVEMBRO DE 2013

Edifício histórico no centro de BH retorna ao roteiro de jovens após a abertura de bares e restaurantes na sacada do 2º andar

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PUBLICADO EM 24/11/13 - 04h00

Na sala 17 do edifício Maletta, onde funciona a administração do complexo, um senhor entra para perguntar sobre salas disponíveis para venda. Depois de uma breve conversa com a recepcionista, ele sai cabisbaixo. O homem descobriu que dentre as 642 salas do condomínio, apenas uma está a venda.


Esse acontecimento reflete com precisão a lei da oferta e da procura. Nos últimos três anos, o interesse das pessoas pelo Maletta cresceu, e o prédio voltou a entrar no cenário cultural e noturno da cidade devido à abertura de bares e restaurantes na sobreloja. A variada opção de estabelecimentos causou, desde então, uma agitação entre os jovens que tornaram a sacada do segundo andar do prédio um dos locais mais disputados para conseguir uma mesa nas noites do fim de semana em Belo Horizonte.

Segundo o atual síndico do prédio Amauri Reis, essa redescoberta do local é explicada por vários fatores. “Estamos em um local geograficamente privilegiado que faz parte da história da cidade e que, atualmente, conta com um complexo gastronômico em um ambiente seguro e ventilado”, conta.
A descrição feita pelo síndico tende a agradar a um público diverso e assim o faz. Na sacada da sobreloja, onde estão localizados a maioria dos novos bares, avista-se de longe todas as mesas ocupadas, cena que remete à tradicional áurea boêmia do local. “Noto que o Maletta é frequentado por jovens com mais de 25 anos, em sua maioria. É o pessoal que cansa da pracinha e vem sentar em um café,” brinca o advogado Jeferson Baêta, freguês dos bares e residente do edifício há três anos, que salienta também a heterogeneidade do ambiente. “O mais interessante é que, apesar da maioria dos frequentadores ser jovem, vejo diariamente diversas tribos convivendo pacificamente aqui. São famílias, gays, o pessoal rastafári”.
Quem comprova que o movimento cresceu nos últimos meses é o proprietário da Cantina do Lucas, o tradicional restaurante tombado como patrimônio da cidade, Edmar Roque. “Conseguimos notar um maior movimento nos últimos tempos. Apesar de sempre termos tido um bom público, houve uma época que fiquei receoso, mas hoje não mais. Os bares na sobreloja são super interessantes e ajudam muito a atrair um público cult que dá mais densidade ao espaço”, reflete o administrador, que está à frente do Lucas – como é chamado o restaurante pelos clientes habituês – há 31 anos.
Comparação. Um dos frequentadores mais assíduos do local é o professor Marcelo Dolabela. Desde 1974, ele participa de manifestações culturais, como recitais de poesias e produção de fanzines no local e, além disso, já morou lá duas vezes. Para o professor, a diferença é notável. “O público que frequentava o Maletta entre os anos 1974 e 1986 era bem diferente. Um dos motivos é que o centro era mais agitado por sediar bancos, redações de jornais, a imprensa oficial e faculdades também. Além disso, a maioria dos teatros e casas de shows estava no entorno do prédio. Isso fez com que o Maletta fosse sede de encontros entre estudantes da esquerda, intelectuais e jornalistas. Depois dos anos 90, os jovens tornam-se predominantes”, analisa.
Para ele, essa ressurgimento dos bares e do público é importante para manter a diversidade. “Essa nova turma traz um novo ritmo para o Maletta. De uns tempos para cá, as manifestações artísticas voltaram a povoar os corredores, não é raro ver um banda tocando por aqui ou uma intervenção sendo feita. Com certeza, o Maletta estava precisando dessa juventude para manter sua vitalidade”, diz Marcelo.
Apesar de a renovação de pessoas ser importante para manutenção do edifício, Marcelo salienta que a tradição não deve ser esquecida, pois faz parte da construção simbólica do lugar. “É legal ter bares diferentes que atraiam pessoas também diferentes, mas isso pode ser moda. E moda passa. Por isso, acredito que seja ideal manter um equilíbrio entre moda e tradição. Há restaurantes antigos aqui, como a Cantina do Lucas, e os sebos, que sediam relações subterrâneas de alguns frequentadores. Por exemplo, pouca gente sabe que Ruy Castro e Charles Gavin, sempre que vêm a Belo Horizonte, visitam o sebo do Tião (o Vila Rica)”, revela.

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